Lula prioriza política externa, mas até agora colheu fracassos
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O presidente brasileiro tem dado extrema importância para a política externa.
Nesta semana, o jornal “O Globo” lembrou que Lula já se avistou com 30 líderes
estrangeiros (até o último domingo; na 3ª feira, a conta já subiu). No mesmo
período, o presidente recebeu apenas 9 congressistas de partidos aliados.
Talvez em seu 3º mandato, como já
escreveu Thomas Traumann, o brasileiro sonhe em ser o novo Nelson Mandela e
receber o prêmio Nobel da Paz: o líder político que vai preso, é solto e
retorna ao poder de forma triunfante.
O fato é que, até agora, o balanço de
incursões de Lula no exterior é que teve resultados limitados (para não dizer
fracassados). Sem contar a ambiguidade do brasileiro, que chegou a dizer que
talvez a Ucrânia devesse ceder algum território para Rússia como forma de
acabar com a guerra.
Eis alguns highligths das investidas de
Lula em política externa:
Argentina – em visita ao país vizinho,
Lula prometeu financiar um gasoduto para transporte de gás de xisto. Custo: R$
3,5 bilhões. O gás de xisto é mais poluente do que o gás natural do pré-sal (e
faltam gasodutos no Brasil). Marina Silva (Meio Ambiente) disse à época
desconhecer o que Lula dizia em Buenos Aires;
Estados Unidos – numa visita em que saiu
de mãos abanando (em termos concretos), o brasileiro falou com o presidente dos
EUA, Joe Biden. Fez uma proposta vaga sobre acabar com a guerra na Ucrânia.
Criticou Jair Bolsonaro. E propôs uma nova governança mundial para o clima;
China – nos dias em que esteve no Império
do Meio, adotou a postura pragmática de não criticar violações de direitos
humanos e problemas na democracia do país e disse que o Brasil “compartilha
muitos pontos de vista” com a China. Repetiu a proposta vaga de paz para guerra
na Ucrânia. Assinou acordos bilaterais que supostamente trarão US$ 50 bilhões
de investimentos para o Brasil (essas promessas são inverificáveis e quase
nunca se cumprem, como mostra a história recente). O petista visitou a empresa
de tecnologia chinesa Huawei (banida dos Estados Unidos) e disse que desejava
demonstrar não ter preconceito “contra o povo chinês”. Era obviamente um recado
contra os EUA.
Emirados Árabes – o presidente deu uma
entrevista na sua passagem de 1 dia por esse país. Sua frase mais marcante
continha um erro histórico (depois de ter dito dias antes no Brasil que a
Ucrânia deveria ceder território à Rússia): “A decisão da guerra foi tomada por
2 países [Rússia e Ucrânia]”. Apesar ser uma situação complexa, um fato é
inegável: quem começou o conflito bélico foi a Rússia, não a Ucrânia.
Portugal e Espanha – na visita aos 2
países ibéricos, Lula assistiu a atos de rua contra sua presença e até
protestos de alguns deputados dentro do Parlamento português. “Quem faz
política está acostumado a isso”, disse. O brasileiro condenou a “violação” de
território da Ucrânia pela Rússia, mas também deu declarações favoráveis à
Rússia e muito pelo contrário. Essas propostas de paz para a guerra na Europa
não têm sido consideradas pelos países daquele continente;
G7 no Japão – a proposta de criar um
grupo de paz para resolver o conflito entre Rússia e Ucrânia teve novo revés.
Na sala dos líderes internacionais, os representantes de vários países fizeram
rodinhas ao lado de Joe Biden (EUA) e de Volodymyr Zelensky (Ucrânia). Lula
ficou sozinho, rabiscando alguns papéis. A mídia internacional deu pouca o
nenhuma atenção ao brasileiro.
Lula então marcou um encontro com
Volodymyr Zelensky, que faltou. O petista disse: “Fiquei chateado porque eu
queria encontrar com ele”. O ucraniano foi informado sobre a declaração do
brasileiro e respondeu: “Eu acho que ele [Lula] que ficou decepcionado”.
Países latino-americanos em Brasília – de
supetão, Lula anunciou uma reunião com colegas da América do Sul. O quorum foi
grande. O resultado, nem tanto. O fato de os 12 países sul-americanos terem
topado se reunir novamente depois de 9 anos é, por si só, histórico. Lula falou
da ideia de criar uma moeda comum para o continente latino e com a ajuda dos
Brics. Embora exista diferenças entre criar uma moeda para trocas comerciais e
uma moeda única a ser adotada em todos os países, ambos não são simples. A
União Europeia demorou décadas para chegar a um acordo criando o euro. Os
integrantes tiveram de estabelecer regras fiscais unificadas, construir um
parlamento funcional comum e seus bancos centrais renunciaram à possibilidade
de serem os guardiões das divisas de cada país. Não é fácil. Pode até ser, como
diria Mao Tse Tung, o 1º passo de uma longa caminhada. Mas alguém imagina peso
argentino, yuan chinês e real brasileiro unificados no curto prazo? Ou mesmo
uma divisa de troca em que todos cheguem a um acordo?
Lula também decidiu receber o presidente
autocrata da Venezuela, Nicolás Maduro, com honras de chefe de Estado. Disse
que os problemas na democracia do país são uma questão de narrativa. O petista
foi criticado por essa declaração tanto pelo presidente do Uruguai, Lacalle
Pou, de direita, como pelo presidente do Chile, Gabriel Boric, de esquerda.
No fim do encontro tentou justificar a
frase. “O que eu disse, na verdade, é que desde que o Chavez tomou posse, foi
construída narrativa contra Chavez em que ele é um demônio, a partir dai começa
a jogar todo mundo contra ele. Foi assim comigo, a quantidade de mentira nos
meus processos. Uma narrativa vendendo uma mentira que depois ninguém conseguiu
provar”, disse Lula. O estrago, no entanto, já estava feito.
Tudo considerado, é certo que as
incursões de Lula em política externa dão ao petista grande visibilidade na
mídia. O brasileiro tem fotos com líderes estrangeiros para mostrar. Em menos
de 5 meses no Planalto, já se encontrou com mais autoridades internacionais do
que Jair Bolsonaro em 4 anos de mandato.
Mas essa predileção pelo proscênio
externo não tem sido suficiente para Lula ter sucesso com suas propostas para
outros países. E do lado de dentro, aqui no Brasil, a articulação política
fraqueja. A economia dá sinais de desgaste. Nesta 3ª feira (30.mai.2023),
soube-que a receita do governo federal foi de R$ 203,95 bilhões em abril de
2023. Houve uma queda real de 1,5% em relação ao mesmo período em 2022. Também
foi divulgado o superavit primário para abril, que foi de R$ 15,6 bilhões
–menor do que os R$ 29 bilhões do mesmo mês no ano passado.
Para 5 meses de governo, é possível
dizer, sem chance de errar que Lula talvez tenha feito menos do que desejava. E
como mostra a tradição da política brasileira, a lua de mel de novos
presidentes termina por volta do 1º semestre. O petista parece está deixando
escapar sua chance de ouro de criar uma marca logo na largada no Planalto.
Poder 360
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