Entre o negacionismo e o resgate da própra identidade, disputa nos bastidores do MDB deve definir o próximo Governador do Paraná
As eleições de 2022 que, até pouco
tempo pareciam distantes e uma incógnita de múltiplas possibilidades, começam
agora a se desenhar com previsíveis cenários. Diria até que, de certo modo,
repetitivos, no Paraná.
De um lado, o
heterogêneo e loteado grupo do Governador Ratinho Júnior,
que aposta na fluidez de um esquema eleitoral calcado em pequenas entregas,
muito marketing e pouco resultado, para garantir a reeleição.
De outro, uma
crescente insatisfação de partidos de oposição e independentes, reforçados pelo
clamor de servidores públicos e setores da sociedade descontentes com a
condução política e econômica do atual mandatário do Palácio Iguaçu, e que
enxergam no ex-Governador Roberto Requião o único
personagem capaz de unificar os indignados em uma candidatura única, com chance
real de enfrentar a máquina do Governo.
A “geringonça”
requianista, seria capaz de reunir forças regionais que iriam de PC do B a PSDB, passando por PT, PV, PDT e Democratas desgarrados,
com possibilidade de palanque duplo para Lula – líder em todas as pesquisas – e
Ciro Gomes, em apoio à derrocada de Jair Bolsonaro, que apresenta visíveis
sinais de desgaste e a maior rejeição dentre os presidenciáveis na Região Sul
do Brasil, somando mais rejeição que os dois adversários juntos, de acordo com
pesquisa do instituto MAPA, realizada entre 18 e 20 de maio, divulgada pela
RIC.
Dono de uma inteligência ímpar e
oratória irretocável, Requião tem experiência e conteúdo de sobra para oferecer
a um eleitorado ávido por melhores dias e, de lambuja, ressuscitaria o velho
MDB de Guerra, que sofre à mingua desde que ele próprio deixou a Presidência
Regional da sigla.
Ocorre que, para
que a geringonça não se concretize, Ratinho conta com aliados (pasmem!) dentro
do próprio MDB. O Deputado Federal Sérgio Souza, menos votado da sigla, assumiu
a presidência da comissão provisória do partido em uma articulação solitária,
sucedendo uma desastrosa administração que reduziu o partido pela metade nas
eleições de 2020 e, agora, tenta garantir a própria reeleição, negociando o MDB com o PSD de Ratinho, nem que para
isso, arrisque eleger apenas a si.
O canto da sereia
de Souza, seria vender a imagem de um Orlando Pessuti viável ao
Senado, ludibriando o diretório nacional MDBista sobre o real
potencial eleitoral do outrora vice-governador, que nas últimas eleições não
obteve sucesso nem na tentativa de reeleger o próprio filho vereador (pelo
PODEMOS) em Curitiba e há mais de uma década não é testado pelas urnas.
Há ainda que se considerar que a base
do partido no Paraná refuta a política negacionista de Bolsonaro, defendida nas
posições de Souza no Congresso Nacional. O deputado ruralista acompanha o
Governo em 92% de suas propostas, de acordo com levantamento do site Congresso
em Foco, publicado em abril, tendo se tornado intransigente defensor e um dos
principais garotos-propaganda da política de desmatamento promovida por
Bolsonaro.
A ampla maioria dos
filiados e mesmo o Deputado Requião Filho, puxador de votos do MDB na
Assembleia Legislativa e detentor da maior votação dentre os parlamentares da
sigla em grandes municípios paranaenses, incluindo a Capital, não tolerariam uma aproximação eleitoral com Ratinho, herdeiro do
espólio político de Beto Richa, principal rival do MDB nas décadas
de 2000 e 2010. Porém, admitem que caso a tese de Souza prevaleça perante ao
diretório nacional do partido, uma grande debandada de lideranças regionais e
pré-candidatos a deputados acompanhe Requião ao partido que abrigue o projeto
coletivo.
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