Duplicação e viadutos encerrarão fama de mau do Trevo Gauchão, em Umuarama
A rotina do dono de restaurante Roberto Donadoni
começa em torno das 6 horas todos os dias da semana. Poucas horas depois de
despertar, um funcionário já acende o carvão e começa a assar as carnes mais
lentas (costela e cupim) do espeto corrido e antes de ele chegar ao salão já há
panelas na fervura.
É como o dia a dia de uma churrascaria qualquer,
mas um componente adicional interfere no quotidiano do empresário: a
necessidade de sair de casa com, pelo menos, 20 ou 25 minutos de antecedência
para cumprir o horário de chegada. O motivo tem o nome e o sobrenome mais
conhecidos da atualidade em Umuarama: Trevo Gauchão.
Donadoni trabalhou por 38 anos como encarregado da
Churrascaria Gauchão, um dos pontos cardeais do trevo, e assumiu a chefia há
poucos meses. O restaurante, quase cinquentenário, é apenas 10 anos mais velho
que a sua trajetória naquelas mesas.
“Soubemos há alguns dias que vão mudar o trevo, mas
ainda não acreditamos. A expectativa é de melhoria para a gente porque em torno
das 6h e das 18h é muito complicado transitar nesse trecho. Tem muita fila,
batida”, afirma. “Se a reforma sair teremos mais segurança. Queremos isso para
os clientes e para nossos funcionários”, afirma o empresário.
O Trevo Gauchão é o principal gargalo logístico da
entrada de Umuarama de quem chega ao município por Guaíra, oriundo do Paraguai
ou do Mato Grosso do Sul, e está a poucos metros do Aeroporto Municipal Orlando
de Carvalho e do Parque Industrial. Também é o primeiro acesso ao Centro do
município, via Avenida Ângelo Moreira da Fonseca, recém-revitalizada com
recursos do Governo do Estado, e o ponto final da conexão Maringá-Umuarama pela
PR-323.
Altevir Correia da Silva, gerente do Posto Gauchão,
estabelecimento vizinho da churrascaria, afirma que a complexidade do trevo
espelha a clientela que depende de Umuarama para prosperar. O município de 110
mil habitantes é o principal polo de comércio, serviços, educação e atendimento
médico para moradores das cidades de um raio de até 150 quilômetros e de irmãs
menores como Perobal, Mariluz, Cafezal do Sul, Cruzeiro do Oeste e Maria
Helena.
“Nos horários de pico o trânsito é muito complicado
na PR-323 e no Trevo Gauchão. Os moradores das cidades pequenas trabalham em
Umuarama, dependem dessa rotina de vai e vem. Com as dificuldades e a pressa
ocorrem muitas colisões, engavetamentos, e alguns episódios de acidentes mais
feios. É um trevo que precisa mesmo melhorar porque é da década de 1970”,
destaca Altevir. O Posto, assim como a churrascaria, se confunde com a história
do entroncamento rodoviário e do próprio município, que é de 1955.
Outro que conhece bem a realidade é Osmar Luiz da
Silva Almeida, funcionário da Borracharia Gauchão, última peça da trinca que
homenageia, no aumentativo, o personagem nascido no Rio Grande do Sul. “Se
duplicar vai melhorar muito, 100% melhor. Até mesmo ambulâncias e viaturas têm
dificuldade de passar no trevo, e em qualquer hora do dia”, completa. “E nesse
meio tem moto, ciclista, pedestre. É perigoso”.
PR-323 – O Trevo Gauchão será transformado em um
grande viaduto de duas alças a partir de 2021. Ele é uma das quatro partes
integrantes – e a mais simbólica – do edital de licitação de modernização da
PR-323 no perímetro urbano de Umuarama, cuja abertura de propostas acontece no
próximo dia 16. Haverá, ainda, duplicação nos 4,489 quilômetros que separam o
Gauchão e o acesso à Mariluz, no entroncamento com a PR-468, vias marginais com
acessos à rodovia principal, além da intersecção em desnível no trevo de
Mariluz. O investimento global será de R$ 81 milhões.
“É um investimento importante para uma das
principais artérias do Estado, que é a PR-323. É uma demanda muito antiga e que
vem castigando a população do Noroeste. Viabilizamos o projeto executivo, que é
parte fundamental da obra, e já colocamos a licitação para rodar. É mais um
compromisso da gestão que sai do papel”, explica o governador Carlos Massa
Ratinho Junior, que assinou uma carta de compromisso com a sociedade civil
organizada do município para viabilizar essas obras.
Na altura do Trevo Gauchão, no km 300, a rodovia
será rebaixada de 7 a 8 metros, preservando o alinhamento e os acessos dos
empreendimentos que ficam nas margens, e fazendo com que as trincheiras de
acesso passem por cima da rodovia. As alças possuem dimensões similares, com
27,5 metros de comprimento por 15,8 metros de largura. Seu dimensionamento
considerou a possibilidade de giro de um veículo bitrem de nove eixos, com
comprimento total de 25 metros.
Em termos práticos, os novos viadutos parecem um
relógio, ou, segundo o projeto do Departamento de Estradas de Rodagem do Paraná
(DER-PR), “um diamante composto por rótula interna, com passagem superior à rodovia,
de forma a organizar o fluxo e eliminar entrecruzamentos”. As faixas de pista
terão 3,6 metros de largura, com acostamento de 2,5 metros. Nas laterais serão
instaladas barreiras do tipo New Jersey.
No trevo de acesso à Mariluz (PR-468) haverá outro viaduto
para dar maior mobilidade de retorno para os veículos. Diferente do acesso ao
Gauchão, nesse ponto, o chamado km 304, a PR-323 passará por cima da obra da
trincheira, possibilitando que as marginais fiquem no nível atual. Em linhas
gerais, essa obra de arte parece uma chave: uma ponta será redonda, com o
viaduto de corpo e o complemento pontiagudo.
No trecho de 4,4 quilômetros que separa as obras
arquitetônicas mais vistosas haverá duplicação com barreira New Jersey e vias
marginais. Após a trincheira no acesso a Mariluz ainda haverá uma extensão da
obra por 700 metros, com encerramento previsto para o km 304,1 da PR-323.
Essa duplicação será efetivada pelo alargamento da
pista existente, visando o menor impacto às propriedades lindeiras, minimizando
custos com desapropriações. As vias marginais foram dispostas de forma a
expandir e complementar as laterais. Elas terão como finalidade separar o
tráfego local para o de longa distância, permitindo o disciplinamento dos
pontos de ingresso e egresso da rodovia. Ao longo do trecho estão previstas
diversas agulhas de entrada/saída.
“O Governo do Estado tem um compromisso com a
PR-323. Estamos finalizando a duplicação até Doutor Camargo, demos início ao
edital que complementa a obra até o Rio Ivaí e agora o perímetro urbano de
Umuarama. É um projeto ambicioso e que contou com ampla participação popular”,
afirma o secretário estadual de Infraestrutura e Logística, Sandro Alex.
A obra completa ainda envolve drenagem para uma
média anual de 1662.64 milímetros de chuva, com bueiros, sarjetas, canaletas,
descidas d’água, dissipadores de energia e bocas de lobo; muros de contenção;
sinalização horizontal e vertical, incluindo dispositivos auxiliares; defensas
metálicas; calçadas de concreto nas marginais com rampas de acesso; abrigos de
pontos de ônibus; postes de iluminação em LED com vida útil de 60 mil horas;
cobertura vegetal com grama e meio-fio. O prazo de execução está estimado em 12
meses.
CONTEXTO – Transitam nesse trecho mais de 1,7 mil
veículos por sentido, em média, todos os dias. Esse movimento exacerbado diante
de estruturas primárias também implica em volume acentuado de acidentes. Entre
2014 e 2019 foram quase 100 acidentes (quatro mortes e 37 feridos), mesmo com
velocidade regulamentada de 60 km/h nos 4,4 quilômetros.
Os tipos de acidente que mais ocorreram no período
avaliado pelo projeto foram as colisões transversais, representando cerca de
26%, seguidas das colisões traseiras, as quais representam cerca de 20% dos
acidentes. O segmento do quilômetro 303, próximo ao trevo de Mariluz, local que
concentra muitas conversões, contou com cerca da metade (51,6%) dos acidentes
registrados no trecho.
As marginais que acompanham a obra ajudarão a
impedir esse tipo de colisão de acesso, principalmente nos horários de pico.
Das 17h às 18h30 o trânsito se transforma na PR-323, “triplica de tamanho”,
segundo frentistas.
“Para se ter uma ideia, para entrar na rodovia fora
da sua mão chega a levar mais de 5 minutos, a não ser que alguém segure o
trânsito. Mesmo para entrar na própria mão e fazer o retorno em um dos trevos
demora”, afirma Lourival Castilho de Souza, frentista do Posto Carretão, que
fica no miolo da intervenção. “Estamos quase em 2021 e ainda temos a mesma
ligação simples. É hora de mudar. Umuarama recebe muitos ônibus, estudantes de
outros municípios, caminhões pesados”.
Segundo o caminhoneiro Rodrigo Queiroz, que
trabalha na região de Umuarama, “se é ruim para o carro, imagina para o
caminhão”. “Mais do que a questão central da qualidade, é perigoso, na verdade.
Temos que aguardar muito tempo apenas para acessar a rodovia. É um descaso. Há
anos estamos esperando essa melhoria”, acrescenta.
José Carlos Camargo Junior, caminhoneiro há 15
anos, não tem como fugir da PR-323 em função do trabalho. O posto de
descarregamento dos grãos que transporta é justamente no acesso a Mariluz.
“Nosso ponto é aqui, tem que enfrentar esse tumulto
diariamente, não tem escapatória. E está difícil de ver uma solução para esse
problema. Piorar não tem como, já chegou no limite, esgotou a capacidade”,
afirma. “Agora é esperar para ver a solução sair do papel”.
EDITAL – As empresas interessadas em participar do
certame licitatório têm até 16 de dezembro para enviar suas propostas. A sessão
de abertura dos envelopes está marcada para o próximo dia 17 de dezembro, às 14
horas, com transmissão ao vivo pelo Youtube.
O edital acontece na modalidade de Licitação
Pública Nacional, em que o critério a ser avaliado nas propostas de preço é o
menor valor oferecido, desde que atendidas as qualificações para habilitação
técnica previstas no edital. Todos os documentos referentes a essa licitação
estão disponíveis no site Compras Paraná.
Box
Melhorias na PR-323 vão resolver dilema histórico
A PR-323 é uma das prioridades da gestão do Governo
do Estado e passa por uma intensa programação de mudanças. Considerada uma das
rodovias mais importantes do Paraná, ela é a principal ligação entre as regiões
Norte e Noroeste e corta por várias cidades.
Estão em reta final de obras a duplicação de 20,7
quilômetros de Paiçandu a Doutor Camargo, estendendo o trecho já duplicado
entre Maringá e Paiçandu, com quase 90% já executados. O investimento global
alcançou quase R$ 80 milhões.
Em outubro o Governo do Estado lançou o edital do
novo trecho da rodovia, de Doutor Camargo até aproximadamente um quilômetro
antes da margem do Rio Ivaí. Serão mais 6,3 quilômetros duplicados. O valor
estimado da obra é de R$ 55 milhões. A obra integra o Programa Estratégico de
Infraestrutura e Logística de Transportes do Paraná e conta com financiamento
do Banco Interamericano do Desenvolvimento (BID).
O segmento da rodovia que será duplicado vai do km
174,2 ao 180,5. Além da duplicação, o projeto prevê a implantação de vias
marginais e de um viaduto que dará acesso a Doutor Camargo. Entre os
quilômetros 178 e 180 está prevista também a instalação de um ponto de retorno
para quem vem de Doutor Camargo e precisa voltar ao município. A velocidade
diretriz da rodovia será de 80 km/h.
Também haverá uma licitação específica para
ampliação da capacidade e segurança da PR-323, nos mesmos moldes da que já está
em andamento na PRC-280, no Sudoeste.
Esses investimentos são fundamentais para minimizar
os problemas de acidente em uma das rodovias com maior índice de violência no
trânsito no Estado. Segundo a Polícia Rodoviária Estadual, o trecho entre
Maringá e Umuarama acumula 162 acidentes, 165 feridos e 16 óbitos, entre
janeiro e 26 de novembro de 2020. De 2015 a 2019 foram 1.745 acidentes, 1.273
feridos e 119 óbitos entre 2015 e 2019.
Saiba mais sobre o trabalho do Governo do Estado
em:
http:///www.facebook.com/governoparana e www.pr.gov.br
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