Cartórios de Maringá registram 34 uniões homoafetivas até setembro de 2020. Em 2019 teve mais
Os cartórios de Maringá registraram 34 uniões homoafetivas entre janeiro e setembro deste ano, considerando casamento e união estável. Em relação ao mesmo período do ano passado, houve uma queda de 26%. Os dados são da Associação dos Notários e Registradores do Estado do Paraná (Anoreg-PR), entidade que representa os cartórios extrajudiciais no Paraná.
Na quarta-feira (21/10), uma declaração do Papa Francisco em defesa
de leis de união civil para homossexuais despertou atenção no mundo. A fala do
papa, um dos comentários mais explícitos dele sobre relacionamento entre
pessoas LGBTQIA+, está no documentário “Francisco” que entrou em cartaz na
Itália.
“Os homossexuais têm o direito de ter uma família, pois são filhos de Deus.
Você não pode expulsar alguém de uma família”, afirmou o papa. Logo em seguida,
disse pela primeira vez: “O que temos que ter é uma lei de convivência civil.
Dessa forma, eles são legalmente cobertos. Eu lutei por isso”, completou.
O desejo de constituir uma família e garantir direitos previstos pelo casamento
levaram o servidor público Hebert de Paula Giesteira Villela, de 41 anos, e o
professor Clever Villela de Souza Giesteira, de 43, a formalizarem a união em
junho do ano passado.
Os dois estão juntos há oito anos e se conheceram nas redes sociais. “Moramos
juntos há dois anos, aquele famoso teste drive para ver se ia dar certo.
Depois, resolvemos formalizar o casamento”, conta Hebert Villela.
Os dois são cristãos. Hebert Villela segue o espiritismo e o marido é católico.
Para ele, a fala do papa é tranquilizadora, mas não abarca completamente os
desejos das pessoas LGBTQIA+. “Ele não está autorizando o casamento religioso,
o que ele concorda é com a união civil entre pessoas do mesmo sexo. Mas, ao
mesmo tempo, é tranquilizador, abre algumas portas e quebra um pouco do
preconceito perante à sociedade.”
Para a advogada e presidente da Comissão de Diversidade Sexual e de Gênero da
Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Maringá, Francielle Lopes Rocha, a
declaração do papa é significativa porque ampara pessoas LGBTQIA+ que se
declaram católicas ou até mesmo cristãs. Entre janeiro e dezembro de 2019,
em MAringá, foram registradas 46 uniões entre casais do mesmo sexo.
Em 2016, durante a Parada do Orgulho LGBT em São Paulo, pesquisa
organizada pelo coletivo Vote LGBT em parceria com pesquisadores da USP,
Unifesp e Cebrap mostrou que quase a metade do público se declarava cristão.
Católicos, evangélicos e kardecistas juntos somavam 45,7% do público no evento.
No entanto, Francielle Rocha afirma que a declaração deve ser vista com
ressalvas. Para a advogada, o Papa Francisco defende a união civil para pessoas
LGBTQIA+, mas o entendimento de união civil pode mudar entre países diferentes.
No Brasil, por exemplo, não existe diferença entre união civil e casamento, mas
há entre casamento e união estável.
“Essa fala do papa tem que ser vista com ressalvas. Será que ele coloca essa
possibilidade de união civil para não tratar do casamento? Uma coisa clara é
que o matrimônio, o casamento religioso, não se discute, é algo da igreja católica.
Estamos falando aqui de direitos e deveres do Estado”, diz Rocha.
Segundo ela, a principal diferença do casamento é o chamado instituto formal,
ou seja, para se casar é necessário cumprir alguns requisitos da lei, como a
publicação de proclamas. A união estável é a vontade do casal e pode,
inclusive, ser declarada judicialmente. Para os casais, os direitos garantidos
são os mesmos com a união estável e casamento. No Brasil, assim como pessoas
heterossexuais, casais LGBTQIA+ têm direito a união estável e ao casamento.
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