EI.



As crianças que sofreram 'lavagem cerebral' pelo EI e que estão fugindo para a Europa.
Grupo que se autodenomina Mutassim está nervoso. O garoto de 16 anos nunca andou de avião antes. Ele olha para os outros passageiros esperando no portão de embarque no aeroporto de Atenas.
À medida que as pessoas começam a embarcar, o garoto sírio repassa na mente as frases em espanhol que aprendeu. As autoridades poderão lhe fazer perguntas, e ele está viajando com um passaporte espanhol falso. O documento custou mais de 3 mil euros (mais de R$ 11 mil) e foi comprado de contrabandistas de pessoas que o ajudaram a fugir da Síria para a Turquia e agora para a Europa.
Apenas um mês antes, ele tinha estado em Raqqa, uma cidade controlada pelo grupo autodenominado "Estado Islâmico". O adolescente tinha sido colocado para trabalhar em um hospital local e cuidar de combatentes do EI. Antes disso, integrava uma das unidades de propaganda do grupo.
Mas essa foi uma outra vida, que ele quer esquecer. Os ataques aéreos, os gritos, as pessoas decapitadas... Tudo agora ficou para trás. Toda essa história precisa ser mantida em segredo, já que um novo começo o espera na Alemanha - mas isso só se as autoridades não descobrirem que ele foi treinado para ser um "filhote de leão", como eram chamados os soldados mirins do califado.
O Estado Islâmico está entrando em colapso. Na Síria, no Iraque, na Líbia... Em todos esses lugares, eles estão perdendo território. Suas ambições de um califado mundial não estão se mostrando realizáveis. Mas talvez isso já estivesse previsto. Havia um plano B, uma "política de segurança" pensada para prolongar a sobrevivência do grupo extremista depois da perda de controle sobre Raqqa, Sirte e Mosul.Primeiro, veio o aliciamento, depois o recrutamento e o treinamento para criar um novo exército de crianças jihadistas, que poderiam virar combatentes adultos. A nova geração de ódio do Estado Islâmico.
Mutassim não tem muito perfil de guerrilheiro. Ele é baixo e nervoso. Eu o conheci no pequeno vilarejo alemão onde está vivendo agora. Estava fumando - um vício que adquiriu depois de deixar a Síria, já que isso é proibido pelo EI. E apesar de ainda não passar do meio-dia, ele me oferece uma lata de cerveja.
Ele diz que parou de rezar e abandonou suas crenças. Antes, ele havia absorvido por completo as lições do EI e seguia seu caminho extremista.
O jovem havia filmado lugares atingidos por ataques aéreos, ajudado feridos no hospital e testemunhado decapitações públicas. Ele também recebeu treinamento militar, o que é pré-requisito do grupo. No caso de Mutassim, durou apenas 15 dias - para outros, pode durar muito mais. O programa é rigoroso, começa às 4h da madrugada com orações. Exercício físico, treinamento para combate e lições sobre a sharia, a lei islâmica.
Como parte do treinamento, adolescentes tinham que saltar por pneus em chamas, rastejar sob arame farpado, enquanto balas disparadas voavam sobre suas cabeças.

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