MARIALVA E SÃO MATEUS DO SUL

Valor diferenciado Mel do Oeste, uva fina de mesa de Marialva e erva-mate de São Mateus do Sul são os novos produtos paranaenses com Indicação Geográfica

Produção de uva em Marialva (noroeste): certificação garante a qualidade e a relevância histórica de artigos ou serviços oferecidos em uma região

Mais três territórios paranaenses colocaram seus produtos no mapa. O mel do Oeste, a uva fina de mesa de Marialva (Região Metropolitana de Maringá) e a erva-mate de São Mateus do Sul (Sul) passaram a contar com a Indicação Geográfica (IG) registrada no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi). A certificação garante a qualidade e a relevância histórica de artigos ou serviços oferecidos em uma região, o que leva ao aumento do valor agregado e ao reconhecimento em âmbito mundial.

Conhecida popularmente por garantir a procedência de vinhos e queijos europeus, a IG não é nova no País. A Lei da Propriedade Industrial é de 1996, mas somente em 2002 foi liberado o primeiro selo do tipo para os vinhos brancos, tintos e espumantes de produtores gaúchos do Vale dos Vinhedos. No Paraná, puxaram a fila os cafés especiais do Norte Pioneiro em 2012. Também já possuem certificação no Estado o mel de Ortigueira e a goiaba de Carlópolis.

A coordenadora estadual de agronegócio do Sebrae/PR, a consultora Andréia Claudino, afirma que os principais benefícios para os produtores são a melhoria da imagem de um produto internacionalmente, o maior acesso a mercados, a profissionalização da organização coletiva e o estímulo à evolução constante. "É um legado, porque é para toda a vida", diz.

Segundo um estudo da Comissão Europeia de Comércio citado pelo Sebrae, 43% da população do continente se dispõe a pagar 10% a mais por produtos com IG e outros 11% aceitam pagar de 20% a 30% mais. Eles valorizam mais os produtos por garantias de lugar e de método de produção (57%), de origem (37%), de qualidade (37%) e de tradição (17%).

Evolução 
No entanto, Andréia afirma que os benefícios vão muito além do ganho de preço."O valor é agregado internamente e as pessoas, os filhos, percebem que vale a pena perpetuar o trabalho, o que facilita a sucessão na propriedade", diz. Evolução que se amplia para outros setores da região, em médio e longo prazos. "O turismo local ganha com isso, outros produtores passam a ter interesse em fazer parte do grupo, uma série de negócios acaba alavancado em consequência, entre outros benefícios internos e externos", conta a coordenadora do Sebrae.

A primeira IG brasileira é um exemplo. O órgão aponta que o Vale dos Vinhedos teve valorização das propriedades rurais de 200% a 500% em cinco anos, aumento no número de vinícolas e melhoria no padrão tecnológico, na oferta de empregos e no crescimento do turismo, entre outros.

Por isso, o Sebrae promoverá entre os dias 1º e 3 de agosto uma formação de executivos para a IG, em Curitiba. Serão até 30 participantes, entre pessoas que fazem parte da gestão de grupos com processos de certificação, para que aprendam a fazer análises de produtos certificados conforme a legislação, além de formular planos de marketing e políticas de preço, entre outros.

Com qualidade
Existem dois tipos de indicação geográfica, de indicação de procedência e de denominação de origem. Respectivamente, a mais comum é ligada ao histórico de uma região em determinada produção, enquanto a outra destaca características de clima e solo que refletem em características finais, como o sabor do mel de Ortigueira, por exemplo.

Qualquer região produtora pode buscar a certificação, mas a coordenadora do Sebrae não acredita em banalização do uso de selos do tipo. "Se compararmos com a Itália, que é um país menor do que o nosso, eles têm mais de 200 certificações enquanto o Brasil tem mais de 40", diz. "Banalização seria se a certificação não exigisse a qualidade, a gestão diferenciada e as regras que estão no papel", completa.

Existem 12 projetos em andamento no Paraná, dos quais oito atendidos pelo Sebrae. Também buscam o IG o melado de Capanema, os queijos de Witmarsum, a farinha de mandioca e o barreado do litoral paranaense, a cachaça de Morretes e a bala de banana de Antonina.



Expectativa de ganhar mercados
Marialva é a maior produtora de uvas do Estado, com 510 produtores e 412 hectares plantados, conforme a Associação Norte Paranaense dos Fruticultores (Anfrut). Porém, somente 15 deles em uma área aproximada de 40 hectares fazem parte do grupo que conseguiu a Indicação Geográfica (IG), com a expectativa de ganhar mercados com base em características mais uniformes.
O gerente de compras dos associados de Marialva, Ronaldo Takayuki Komegae, afirma que o grupo definiu a qualidade da uva. "Temos um grau Brix de 15 em doçura e 24 milímetros de tamanho da baga, com coloração determinada", diz, ao citar o comum em doçura para a uva é de 13 ou 14. "Não é algo que vamos ter de início, mas a expectativa é agregar mais valor ao produto e atender mercados exigentes."
O Sebrae acompanha há sete anos a produção de uvas finas de mesa de Marialva. As variedades cultivadas são Brasil, Benitaka, Rubi, Itália, Núbia e Vitória, que são produzidas durante todo o ano devido às boas condições de solo e clima da região. O presidente da Anfrut, Nelson Riccieri, afirma que buscará atrair mais produtores para fortalecer a produção na região. "Nosso próximo passo é promover a divulgação da certificação e estimular que outros produtores se enquadrem nos procedimentos para termos novos habilitados. Isso tudo irá impactar na melhora da imagem da uva de Marialva e em novos negócios."
A nova realidade para Marialva já traz resultados para a Associação dos Olericultores e Fruticultores de Carlópolis (APC), que obteve o selo de indicação de procedência para 19 produtores de goiaba em 17 de maio do ano passado. Os cerca de 50 hectares envolvidos na produção com certificação começaram em novembro do ano passado a exportar cerca de 2 mil quilos da fruta para a Holanda mensalmente, conta o responsável pelas vendas da APC, Marcus Vinícius Santos Sanches. "O preço do produto varia conforme a época, mas, quando estava em R$ 2 por quilo no Brasil, em época de safra, recebíamos R$ 5 dos holandeses", diz.
A APC produz de 30 mil quilos a 60 mil quilos por semana, conforme o período do ano, e atende muitos estados do País. Desde que conseguiu a certificação, Sanches diz que mais revendedores viraram clientes. "Não tivemos um aumento significativo no preço das vendas dentro do Brasil, mas tivemos mais gente que veio comprar conosco", afirma Sanches. (F.G.)
Fábio Galiotto
Reportagem Local/FOLHA DE LONDRINA

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